O interesse crescente do Instituto Superior de Agronomia (ISA) pelas questões relacionadas com o desenvolvimento, em particular com o desenvolvimento rural, complementado pela importância que o combate à pobreza, à fome e à doença , vêem assumindo no quadro internacional, são razões suficientes para justificar a criação do Centro de Estudos Tropicais para o Desenvolvimento – CENTROP.
Constituído em Novembro de 2004, o CENTROP tem como objectivos principais, como emana dos seus estatutos , a promoção e apoio ao desenvolvimento em regiões tropicais, através
- Da participação em projectos de desenvolvimento.
- Da investigação científica.
- Da realização de estudos sobre a Agricultura e o Desenvolvimento Rural.
- Da divulgação de temas e acções de formação relacionados com o desenvolvimento técnico, económico e social.
Depois da muita esperança depositada nas questões do desenvolvimento logo a seguir à Segunda Guerra Mundial e que coincidiu com a independência de alguns dos países até então colónias, a comunidade internacional foi perdendo interesse nesta matéria o que teve como resultado o agravamento crescente desta situação, pelos mais diversos motivos, em especial nos países mais pobres.
No fim da década de 1980 tinham-se atingido os mais baixos fluxos monetários destinados ao desenvolvimento. Os maus resultados obtidos neste objectivo foram, com certeza, uma das razões para este crescente desinteresse.
Porém, o agravar da situação nos países mais pobres, nomeadamente na África sub-sahariana, levaram ao despertar para aquela realidade e em que as grandes conferências das Nações Unidas foram o testemunho desse acordar. A conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cimeira do Rio) em 1992, a IV Conferência das Nações Unidas sobre as Mulheres, realizada em Pequim em 1955 e a Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Social de Copenhaga também em 1955, serviram para despoletar a necessidade de se voltar a apostar no Desenvolvimento como forma decisiva de encurtar o enorme fosso que existe entre os países ricos e pobres. Tais acções culminaram em 2000 com a Cimeira do Milénio, onde se aprovou a já tão propalada “Declaração do Milénio” que assumia como valores fundamentais os da liberdade, igualdade, solidariedade, tolerância, respeito pelo ambiente e a partilha de responsabilidades. A conjugação destes valores levou mesmo ao assumir de metas quantificáveis que passariam a ser designadas como os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e que passaram a ser como que uma cartilha para os programas de cooperação bilaterais e multilaterais.
Esses objectivos são:
1- Erradicação da pobreza extrema e da fome;
2- Alcançar a educação primária universal;
3 - Promover a igualdade do género e capacitar as mulheres;
4 - Reduzir a mortalidade infantil;
5 - Melhorar a saúde materna;
6 - Combater o HIV/Sida, a malária e outras doenças;
7 - Assegurar a sustentabilidade ambiental;
8 - Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.
Nascendo numa escola que se tem dedicado com alguma abrangência em especial às questões do desenvolvimento rural, o CENTROP teme que a pura leitura académica dos Objectivos do Milénio, não desperte a atenção dos decisores das políticas de desenvolvimento para a importância de ter que se fazer uma aposta clara no desenvolvimento do mundo rural como mola fundamental para a erradicação da pobreza.
Como defende A. Brandt, do Instituto Alemão para o Desenvolvimento no European Forum on Rural Development em 2002, e muitos outros autores, “a experiência das últimas quatro décadas, mostra claramente, que a eliminação sustentável da pobreza em países de economia incipiente ou pré-industrial, só pode ser alcançada através da agricultura e do desenvolvimento rural”. O certo porém é que, embora a ajuda ao desenvolvimento tenha baixado de 1992 para 2000 de 58,3 mil milhões de dólares para 53,1 mil milhões, sectorialmente a percentagem dedicada ao desenvolvimento rural terá baixado mais significativamente (de 12,5 para 5%) o que, atendendo ao número de pessoas que vive da e para a agricultura nas regiões mais desfavorecidas, é no mínimo incompreensível, pelo que tudo o que se faça, com boa planificação, para inverter esta situação será sempre bem feito.
Outro objectivo importante que está na origem da criação da nossa Associação prende-se com a necessidade reconhecida de abordagens cada vez mais interdisciplinares sobre as mais variadas questões pelo que, embora o ISA detenha o exclusivo nacional para o Ensino da Agronomia Tropical, o qual fará o centenário no próximo ano, a integração numa Associação como o CENTROP, de todos os professores bem como ex-alunos ou outros agentes interessados pelas questões do desenvolvimento nas suas diferentes vertentes, permitirá ao CENTROP ter uma intervenção mais abrangente capaz de responder às reais necessidades dos países em desenvolvimento e, não menos importante, à formação de novos agentes qualificados para estas matérias.
O CENTROP é então uma Associação entre o ISA e todos os agentes interessados nas questões do desenvolvimento cujos objectivos se podem resumir em:
a) - Influenciar os agentes decisores da política nacional e internacional para a importância do desenvolvimento rural e para a melhoria do nível de vida das populações mais pobres (nomeadamente os agricultores da África sub-sahariana);
b) - Intervir aos mais diferentes níveis em acções que estejam directa ou indirectamente relacionadas com as questões do desenvolvimento (art. 2 dos Estatutos);
c) - Formação de novos e qualificados agentes para intervenção no terreno;
d) - Contribuir para os debates nacionais e internacionais sobre as questões do desenvolvimento.